Reparei os dois logo na entrada.
Ele um homem feio, feições desarmônicas, altura desproporcional com a magreza que o faziam parecer um espantalho com os cabelos desgrenhados daquele jeito. A camisa amassada mostravam que ali estava um vagabundo de primeira. Via o mundo com imenso desdém, reclamou da fila, do preço do ingresso, da falta de opção de filmes, da vida. Rótulo: homem desempregado de 50 anos que levou um pé na bunda.
Ela era a imagem clássica de uma princesa (não a Barbie, uma Lady Di), cabelos grandes encaracolados davam suporte para uma tiara de plástico que pela sua graça e leveza parecia uma coroa diamantes raros. Sorria para a vida, sorria com os olhos, sorriu pra mim e iluminou meu dia. Roupa simples, um vestido sem friso ou estampa que dançava com seus passos e fazia o universo brilhar ao seu redor, olhava tudo com espanto e maravilha. Rótulo: bailarina rara que dança com a felicidade.
Ele sentou ao meu lado e continuo reclamando, primeiro do frio, depois do calor, do barulho dos jovens, da tela muito próxima, da falta de cadeiras, da posição da cadeira, do filme que iam ver. Ela escutava aqueles urros com respeito e solenidade, sem no entando assentir. Nossos olhos se cruzaram de novo e tive a impressão dela ter percebido minha rejeição ao seu pai (?), fazendo com que me sentisse envergonhado.
Mas como poderia eu olhar aquele mendigo de outra forma? Como poderia uma jóia de criança daquela ser filha de um homem de aparência e comportamentos tão feios? Decidi seguir em frente com o filme, que nem de longe era próprio para uma criança tão sensível. Ela teve medo algumas vezes, pulava da cadeira segurando firme no braço dele, que parecia nem estar assistindo o filme, porque continuava olhando ao redor e reclamando de tudo, dessa vez procurando minha aprovação.
Até que ela cansou (ele continuava seu rosário de reclamações), falou em seu ouvido e eu testemunhei um milagre. Aqueles que antes eram braços magros, traziam a bailarina para seu colo e pareciam agora grandes braços fortes e vigorosos de um herói, enlaçaram seu corpo tão pequeno com um carinho tão grande e finalmente reposou a cabeça dela em seu peito como faria um verdadeiro rei. O vagabundo agora se comportava de forma digna e solene. Com o seu maior tesouro nos braços ele estava também gracioso e em harmonia consigo mesmo e com o mundo.
Riu para mim, dessa vez pra perguntar:
- Tem filhos?
- Não... - respondi ainda admirado com a cena
- Eles fazem valer a pena. - falou iluminado
5 comentários:
arrepiada!
*-*
muito lindo mesmo!
Ontem, emfim, eu e leo vimos anjos e demônios, bonzinho né?
mas eu resolveria aquele filme em 5 min,sem precisar saber nd sobre Galileu, so bastava Robert ir direto pro último padre nera não?
hahahahah
muito bom mesmo seu texto amiguxo
Simplesmente lindo!
Mil beijinhos pra vc .*
muito bom brother...
o texto é massa
;]
Ain ^^
Gostoso de ler!!
..
*
Adoreiii ^^ glei!!
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