Cheira, que eu quero ver

Tenho andado muito pelo centro de Campina Grande resolvendo as coisas da empresa em abertura e é impressionante como há crianças cheirando cola de sapateiro (adesivante com base de tolueno) publicamente sem nenhum problema. Já liguei dezenas de vezes pra a defensoria da infância e juventude, pra polícia e até para a polícia federal.

Qualquer pessoa em sã consciência entende que não adianta criminalizar o usuário da droga. Muitas daquelas crianças começam cheirando cola para inibir a fome e acabam viciando na sensação de dormência e relaxamento. Não é muito raro crianças morrerem desnutridas, desidratas e com tarquicardia por causa do consumo continuado. Sim, aquilo mata.

Sempre me perguntei porque a polícia não prende os vendedores da cola. Falta de vontade ou de inteligência, a verdade é que, se existe tanto consumo, existe quem venda e esse sim é quem tem que ir pra cadeia. De preferência pegando 20 anos, como o código penal estipula.

Um dos caras que tem lutado contra isso com todo empenho é o vereador Olímpio Oliveira (não, ele não me pagou pra escrever isso), propondo, por exemplo, a recentemente aprovada lei que "disciplinará que a produção, distribuição e comercialização da Cola de Sapateiro e outros produtos sintéticos à base de Borracha sintética e natural, e outros produtos com solventes aromáticos à base de benzeno tolueno, éter e demais produtos tóxicos e voláteis capazes de serem utilizados, indevidamente, deverão ser acrescentadas essências mascarantes do cheiro com aroma fétido", baseado numa proposta de lei do Ministério Público do Acre

Isso mesmo, vai cheirar feito suvaco de rapozeiro depois da final do paraibano. Ok, ok... vai acabar virando mais uma lei de enfeite, se os policiais não batem em cima de quem vende e a vigilância sanitária não tiver condições de determinar o que é cola fedorenta ou não-fedorenta. Talvez cause até mesmo um movimento de importação de cola de outras cidades.

A questão é que existem pessoas no meio público que ainda queimam os neurônios tentando encontrar soluções e propondo esquemas para resolver os problemas no social. Porque a tática das pessoas na rua, de fingir que aquelas crianças não existem, de que não existe nenhum problema... não tem dado certo há 500 anos.