quarta-feira, janeiro 18, 2012

Se você me desse a mão

Uma das coisas que mais cativou na obra de C. S .Lewis foi a vastidão da sua produções. Das palestras e áudios do seu programa de rádio durante e após a segunda guerra mundial, dos livros de teologia, da ficção científica, do romance fantástico, das poesias... sua biografia "Surpreendido pela Alegria" e seu diário de luto pela morte da esposa "Anatomia de uma dor" se destacam imensamente.

Relacionei-me intensamente com sua descrição de certas experiências estéticas em sua infância contemplando a criação que lhe levaram a uma (proto)fé destruída posteriormente pelas orações não atendidas com a morte de sua mãe e a esmagadora religião organizada imposta pela família, sociedade e educação. No entanto, essas experiências deixaram um vácuo de eternidade em seu coração, como ele posteriormente postularia em "Cristianismo Puro e Simples" numa das suas célebres frases: "Eu descobri em mim mesmo desejos os quais nada nesta Terra pode satisfazer. A única explicação lógica é que eu fui feito para outro mundo".

Tenho visto o fardo que Deus impôs aos homens. Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez. Eclesiastes 3:10-12 (NVI)

Suas experiências posguerra, onde foi combatente, o fizeram revisar seu ateísmo para um teísmo aberto, algo como o "deus" de Spinoza. Foi um longo processo até, como ele mesmo relata, se rendesse a crer que a eternidade que sua alma aspirava era a comunicação do Deus com quem se relacionava e que este era, apesar de sua rejeição inicial por causa de seus traumas, Aquele revelado nas Escrituras. Com ele escreveu em sua autobiografia:

O leitor precisa imaginar-me sozinho naquele quarto em Magdalen, noite após noite, sentindo - sempre que minha mente se desviava um instante que fosse do trabalho - a aproximação firme e implacável d'Ele, aquele que com tanta determinação eu não desejava encontrar. Aquilo que eu temia tanto pairava afinal sobre mim. Cedi enfim no período levito subsequente à Páscoa de 1929, admitindo que Deus era Deus, e ajoelhei-me e orei: talvez, naquela noite, o mais deprimido e relutante converso de toda a Inglaterra. Não percebi então o que se revela hoje a coisa mais ofuscante e óbvia: a humildade divina que aceita um converso mesmo em tais circunstâncias.

Tive um raro momento de lucidez com alguém que busca no hedonismo satisfazer essa ânsia de eternidade humana e fiquei ali tentando uma ponte para pegar em sua mão e mostrar que o que podemos conhecer do Sol naturalmente, o seu calor e luz, não se compara a grandiosidade da engenharia do sistema solar e de toda a complexidade da dinâmica dos corpos celestes.

Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós. ‘Pois nele vivemos, nos movemos e existimos’, como disseram alguns dos poetas de vocês: ‘Também somos descendência dele’. Atos 17:27-29 (NVI)

Os textos bíblicos saltavam na minha cabeça, mas eu sabia que apenas silêncio era sábio. Eu queria pegar em sua mão, sim eu queria. Queria levar ela pra passear em campos verdejantes ou pelo vale da sombra da morte e ver que em ambos "Tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem." Salmos 23:4.

Queria mostrar-lhe que não devo me anestesiar dos sofrimentos desse mundo na busca do prazer, pois o verdadeiro prazer está em conhecer Sua fonte e mergulhar em Seu amor e graça, reconciliar-se com Ele e ter paz (legal, jurídica) e paz (quietude, tranquilidade, estado de espírito, satisfação).

"O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água. Jeremias 2:13-14 (NVI)

Não posso explicar o que é a Matrix, apenas mostrar-lhe a porta... as pílulas são propostas, mas só ela pode escolher... enquanto isso, hoje de manhã, como canta Palavrantiga "vai raiar o sol, vai raiar outra vez; irá aquecer corações e a luz trará um novo alvorecer sobre nós" e o bemtevi me saúda pela janela.

"O que não é eterno é eternamente inútil"... como eu queria pegar em sua mão e lhe mostrar que a Vida após a vida também pode ser aqui vivida.

O Espírito e a noiva dizem: "Vem! " E todo aquele que ouvir diga: "Vem! " Quem tiver sede, venha; e quem quiser, beba de graça da água da vida. Apocalipse 22:17-18 (NVI)

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, Gleidson!