Como dois rios

Gostaria de dedicar este texto aos amigos que pouco a pouco estão unindo-se numa das mais bela e prazerosa ordenança de Deus, o casamento.

O amor é encontro, nunca caminho solitário, não há verdadeiro amor sem a possibilidade de doar-se pelo outro. Essa coisa apelidada de "amor próprio", ou autoestima, nada mais é que aceitação de si ou em pior caso egocentrismo. Deus subexiste em três pessoas que vivem o amor entre si.

E como rio que tem percurso, cada um de nós peregrina nesta vida margeando as "flores e frutos, montanhas e mares, sol, lua, estrelas no céu". Por mais que cada um de nós tenha que enfrentar o nascimento e a morte sozinhos, durante a vida há os afluentes que nos alimentam: cada um de nós é cercado de família, amigos, paixões.

O ponto mais belo da metáfora da nossa vida como o rio é quando dois deles se encontram. No início, suas águas convivem, mas não se misturam. Até que temperatura, ph, resíduos... tudo se torna o mesmo caldo. Passam a ser um único ser, ainda que dois indivíduos, ambos caminhando para o destino de todo rio, desafogar no Mar.

O amor, repito, é encontro e também caminho, objetivo. O rio vive para o Mar e não para se tornar água parada, mangue ou barragem, no qual a vida não é transportada, não percorre o Caminho: se torna infértil.

Como dois rios que percorrem seu caminhos juntamente para o Mar, assim peço a Deus que o Seu amor lhes guie a levar vida por onde percorrerem, não se deixando parar ou separar-se, mas recebendo ainda mais afluentes no caminho, possam trazer quanto mais volume possível.

Que Deus lhe dê a graça de não serem somente largos, mas profundos e sem nenhum risco de assoreamento. Faça-os sábios para reconhecer que mesmo o rio mais caudaloso tem que saber manusear o terreno, mas que também pode com o tempo esculpir o seu trajeto na mais dura rocha. Que as suas águas alimentem muitas plantas, peixes, pescadores. Que os homens venham admirar sua força e os usem para também seguir seu caminho.

Que o Senhor, de quem nós somos, em quem existimos e no qual vivemos, trace seus caminhos de forma que as curvas da vida não os desviem do alvo que dá o sentido para nossas vidas: achar-se na imensidão do eterno e viverem em perfeito autoconhecimento, comunhão com outros e em amor com Ele.